24 QUADRINHOS POR SEGUNDO


O Cinema é feito de 24 pequuenos quadros exibidos a cada segundo. Projetados, esses quadrinhos ocupam todo o tamanho da telona. As imagens, vistas em sequência, nos presenteiam com a ilusão de movimento e contam histórias. Desde a arte pré-histórica, passando depois pelos egícipios, gregos, maias etc a humanidade aliou imagens, ou conjuntos de imagens, ao processo cultural de contar histórias. A junção efervescente entre imagem e fala é usada para registrar os acontecimentos, criar narrativas e expandir nosso horizonte imaginário. 

 

Das ilustrações nas paredes das cavernas as imagens sequenciais foram adquirindo novas formas, chegando à mídias impressas na forma de charges, tirinhas, e depois no formato próprio das histórias em quadrinhos, ou gibis. De naturezas similares, as histórias de detetives e aventureiros, tão consumidas e amadas no mundo dos quadrinhos, eventualmente encontraram espaço também dentro do cinema. O encontro dessas mídias resultou em uma grande quantidade de filmes baseados em quadrinhos, inclusive com grande sucesso atualmente com filmes de super-heróis, mas essa parceria é muito maior do que só as grandes bilheterias e do cinema comercial.

 

Essas mídias irmãs, unidas pela semelhança no uso de uma linguagem visual, terão seu encontro celebrado pelo CINUSP na mostra 24 QUADRINHOS POR SEGUNDO, em que finalmente chegam às grandes telas as histórias que muito antes haviam passado de mão em mão.  De 20 de junho a 8 de julho, serão apresentados filmes que adaptam quadrinhos de variados gêneros e nacionalidades. De histórias clássicas adaptadas dos mangás japoneses, como o sangrento Lady Snowblood, às histórias sensíveis e mundanas retratas em Ghost World e Nossa Irmã Mais Nova, coloca-se em exibição um infinito de possibilidades narrativas, sejam pelos estilos de contar as histórias ou pelos gêneros das adaptações.

 

Ainda que as adaptações tenham se popularizado mais e mais na última década pelos vários filmes e séries de super-heróis, este não é o único produto gerado pela aliança entre essas narrativas - e nem é de hoje que essas histórias são trazidas para o cinema. Desde a década de 1970, filmes como Barbarella, o clássico cult de estética camp que alçou Jane Fonda como sex symbol e o italiano Perigo: Diabolik já eram aproveitados por diretores e produtores ao redor do mundo. Parte das “novas ondas” cinematográficas da época, e numa ação de afastamento do cinema hollywoodiano, eram escolhidos roteiros com elementos mais sexuais e personagens anti-heróicos ou polêmicos. A mostra conta ainda com uma sessã especial com alguns episódios da cinessérie Flash Gordon, umas das primeiras adaptações dos quadrinhos para as telonas, ainda em 1936.

 

Muitas vezes, um quadrinho é criado em um contexto e, por sua qualidade e fama, se torna uma adaptação pelas mãos de outro artista, de outra origem, que agrega à história um pouco de sua cultura em uma rica miscelânea artístico-cultural. É o caso da dupla Lady Oscar e Oldboy - ambos baseados um mangás japoneses, que ganharam adaptações incríveis pelas mãos de diretores consagrados - o francês Jacques Demy e o sul-coreano Chan-wook Park, respectivamente, porém com estilos e gêneros completamente diferentes.

 

E nem toda adaptação precisa ser completamente fiel ao seu trabalho original. Marcas da Violência, dirigido por David Cronenberg, toma rumos diferentes do quadrinho, feito mais nos moldes do estilo visual do diretor do que do quadrinista. Já o horror italiano Baba Yaga, baseado em tirinhas publicadas durante décadas da personagem Valentina, foca em adaptar os elementos de erotismo, fantasia e onirismo do material original. Com um pouco mais de fidelidade mas ainda muita liberdade em sua criação, Dick Tracy traduz o tom das histórias noir publicadas desde a década de 1930 selecionando alguns dos vilões peculiares de Tracy para criar um filme com a alma dos anos 1990 e uma tentativa única de trazer para a telona as cores chamativas dos quadrinhos.
 

Para além dos filmes de ação ou horror, histórias sensíveis e íntimas como Nossa irmã mais nova, de Hirokazu Koreeda, não deixam dúvidas de que os temas abordados nos quadrinhos conseguem abarcar uma ampla gama emocional, seja através do humor ou da lenta exposição de cotidianos familiares, sem precisar seguir a jornada de conquistas e derrotas de um herói mitológico.

 

É comum que a arte das histórias em quadrinhos se conecte com o público jovem, embora isso não seja algo exclusivo. Um sucesso de público, Scott Pilgrim contra o mundo é talvez um dos filmes mais divertidos e malucos do diretor Edgar Wright, enquanto as estranhas garotas de Ghost World se destacam por trazer o cinismo e incerteza da juventude em uma comédia obscura. Em outro continente, o trabalho da sueca Coco Moodysson Nós somos as melhores foi adaptado para o cinema por seu marido, Lukas Moodysson, gerando um filme acolhedor sobre um grupo de garotinhas punk de 13 anos na Suécia.

 

E o Brasil não fica atrás quando o assunto é quadrinho. Exemplo clássico contemporâneo é Turma da Mônica - Laços, de Daniel Rezende, que trás para o cinema a famosa turma criada por Maurício de Sousa. Trata-se de um filme divertido, feito para a família, que não economiza nas cores e no humor na hora de retratar personagens tão consagrados. 

 

Os quadrinhos aceitam qualquer história, qualquer idade e qualquer paixão, assim como o cinema e o CINUSP! Então pegue seus gibis e seu balde de pipoca, faça o que está no seu balão de pensamento, e aproveite a nossa mostra 24 Quadrinhos por segundo para folhear um pouco mais desse universo nascido a partir de páginas ilustradas.