CINEMA PENSA O BRASIL
Entre os dias 29 de agosto e 9 de setembro, o CINUSP, somando empenho ao projeto USP Pensa Brasil, apresenta a mostra Cinema Pensa o Brasil, em parceria com o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), que realiza a exposição Watú não está morto!, ponto de partida para a seleção dos 10 longas metragens que compõem nosso programa. A programação conta ainda com apoio da Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental.
Entre ficções e documentários, clássicos atemporais exibidos em altíssima qualidade e filmes recém lançados - a curadoria busca ao contemplar as múltiplas facetas de uma nação tão grande e variada, trazer a reflexão feita pelo cinema brasileiro sobre temáticas urgentes do contemporâneo. Os temas abordados estão relacionados a questões sociais que permeiam a identidade nacional desde os primórdios e ganham cada vez mais importância, tais como as demandas de gênero, classe e raça; bem como a luta indígena, as disputas por território, o apagamento da produção intelectual de grupos dissidentes e o entrave político dos últimos anos.
Dentre os filmes, está em destaque Deus e o Diabo na Terra do Sol de Glauber Rocha. A fuga pelo sertão envolvendo o universo do cangaço e do culto messiânico, com as figuras lendárias do jagunço Antônio das Mortes e de Corisco, o diabo loiro, ganham ainda mais vivacidade através da restauração em 4k que será exibida. Em o Bandido da Luz Vermelha de Rogério Sganzerla, numa outra alucinante trajetória, um foragido da polícia em crise de identidade, traça um panorama atemporal do far-west terceiro-mundista.
Nos deslocamentos pela terra verde e amarela também se dá Serras da Desordem. O híbrido entre documentário e ficção conta a história de Carapiru, único sobrevivente de um ataque organizado por fazendeiros a sua tribo. Ao retratar esse trágico e infelizmente atualíssimo episódio, Andrea Tonacci propõe uma experiência arrebatadora, se diferenciando da maneira de narrar até então utilizada. Segredos de Putumayo, do diretor amazonense Aurélio Michiles, atenta igualmente a necessidade de medidas contra os ataques aos povos originários. No documentário que será acompanhado de um debate com o diretor e com o ator Stephen Rea, vemos mais sobre as investigações do assassinato de milhares de indígenas forçados a trabalhar na coleta de borracha.
Adeus, Capitão!, novo filme de Tita e Vincent Carelli, se resguarda na melancolia presente nas guerras culturais para manter a memória preservada. O líder do povo indígena Gavião, conta para suas netas a sua vida. Da hecatombe do contágio ao fim do mundo conhecido, o Capitão Krohokrenhum conduz um movimento de reconstrução, apontando assim como Nũhũ yãg mũ yõg hãm: Essa Terra é Nossa!, o impacto severo da chegada dos brancos. Há nele a denúncia dos rios envenenados, dos animais extintos e das árvores que começaram a cair. Todavia, como o título Watú não está morto! ecoa, os cânticos e as tradições ainda permanecem. Um Brasil que, apesar das tragédias, tem perspectiva de futuro desde que olhe para suas raízes.
Olhar para o nosso passado é também o que faz A Negação do Brasil de Joel Zito Araújo. Por meio da retrospectiva das telenovelas brasileiras, o filme explora a formação da imagem do negro no imaginário nacional, pensando alternativas para uma nova construção no audiovisual. Da mesma forma, preocupado em abordar questões ultra correntes como as milícias, está Kleber Mendonça Filho, que já no seu primeiro longa O Som ao Redor, estabelece para si um lugar de renome. Fazendo mesclas com o cinema de gênero, o longa imerge na vida dos residentes de uma rua de classe média do Recife que toma um rumo inesperado quando uma empresa de segurança particular é contratada. O filme será seguido por uma palestra com o professor e pesquisador Ismail Xavier.
Alvorada, de Anna Muylaert, retrata a vida cotidiana da Presidente Dilma Rousseff no Palácio do Alvorada, enquanto aguarda o veredicto de seu processo de impeachment. A experiência turbulenta da queda do estado democrático mostrada no filme faz um paralelo com a obra Pula Vai, onde pula-pula infláveis em forma de catraca remetem ao momento do início das manifestações de 2013. Por fim, Voltei!, da dupla baiana Ary Rosa e Glenda Nicácio costura temporalidades trazendo analogia ao período sombrio que vivemos.No ano de 2030, duas irmãs ouvem no rádio um julgamento que pode mudar os rumos do país são surpreendidas por uma irmã que volta dos mortos para confraternizar nessa noite histórica.
Como sempre ressaltamos, o cinema nacional vem trabalhando na vanguarda do pensamento crítico. Para nós do CINUSP, é um imenso prazer poder oferecer ao público uma programação de alta qualidade técnica e temática, propondo novas utopias para a sociedade pensar seu futuro.
Mais sobre a programação do site: https://www.pensabrasil.usp.br/
Ecofalante: https://ecofalante.org.br/