FESTIVAL DE CINEMA ITALIANO
Festival de Cinema Italiano
de 16 de Novembro a 4 de Dezembro
Durante décadas de produção cinematográfica, intensa vida política e uma vibrante cena da arte dramática, a Itália se estabeleceu como palco de grandes obras e brilhantes artistas nos últimos séculos. Em seu colo acolhe idealizadores de movimentos culturais relevantes mundialmente, como é o neorrealismo, enquanto produzem novas formas de apresentar desafios da vida social. Dentre suas muitas faces, excepcionais atrizes que a tais representações dão fôlego de vida, pioneiros do fazer artístico que a tais representações deram novas formas de ser: todas ainda capazes de encantar e surpreender o público que as encara.
Entre os dias 16 de Novembro e 4 de Dezembro, o CINUSP - em parceria com o Consolato Generale d’Italia, apresenta o Festival de Cinema Italiano, realizado por todo o Brasil em comemoração ao inesquecível conjunto de musas e diretores do cinema italiano. Com uma seleção de 10 filmes, especialmente reunidos para ilustrar a atualidade e beleza dessa longa tradição, pretende-se compor uma retrospectiva das grandes divas que incorporam a tempestade de fascínio, tragédia e drama do século 20, assim como dos diretores que as capturam. Também serão apresentados filmes inéditos, notáveis tanto pelo diálogo com os clássicos do cânone italiano quanto pelo tratamento inovador de problemáticas atuais.
A identidade nacional é objeto que passa pelas mãos mais distintas, com as mais distintas formas: algumas se propõem a satirizar os costumes que constituem sua nação para compor um discurso crítica dela, outras reúnem as personagens típicas dessa cultura e lhes empresta um palco de comédia para fazer desfilar a riqueza lírica. Em busca do real, ou de uma maneira de mostrá-lo, há ainda aquelas que buscam no campo de lutas e contradições políticas o seu momento de verdade. Todas estas, contudo, escolheram fazer cinema -olhar para si através de luz e som.
Musa da comédia italiana, Stefania Sandrelli estreou na telona aos 14 anos e desde então foi uma estrela celebrada ao longo dos anos 60 e 70, quando trabalhou com Bernardo Bertolucci em O Conformista, um fascinante estudo de personagem que reconta a era fascista a partir da figura de um homem sem moral, sem ideias e movido pelo desejo de alcançar o “normal”. Sua personagem, Giulia, é uma ingênua jovem burguesa que incorpora bem a sátira de costumes, mas cabe notar como a atriz também ocupou-se de dramas, como é o caso de Mal Obscuro, dirigido por Mario Monicelli nos anos 90.
Outra prima-dona marcante para o cinema de sua época e presente na programação é Claudia Cardinale, atriz brilhante que dá vida ao papel de Aida - uma jovem trabalhadora - em A Moça com a Valise, dirigido por Valerio Zurlini. Diretor este que marcou os anos de transição entre o fascismo e as revoltas estudantis dos anos 60 produzindo filmes com apuradas críticas históricas e personagens complexas, com profunda vida interior. O que também seria o caso das personagens de Luchino Visconti, um dos idealizadores do neorrealismo italiano e responsável por muitas das maiores obras do cinema mundial. Um de seus últimos filmes, Violência e Paixão, é um exemplar ilustre das críticas mordazes que o diretor promoveu sobre as classes dominantes da Itália de seu tempo, e de sua sintonia marcante com grandes talentos daquela época.
Frente às contribuições do neorrealismo em diversos campos da cultura e o conjunto revolucionário de inovações técnicas e discursivas que apresentou, a exibição de Roma, Cidade Aberta é uma verdadeira homenagem ao cinema italiano. Um tributo ampliado pela presença fundamental de Anna Magnani, por vezes referida como uma das maiores atrizes dramáticas da Itália, como também pelos desafios da luta antifascista que figuram no cerne do período de guerra. E já pensando no Partido Comunista Italiano -no qual participaram diversos diretores que figuram no festival, nos cabe olhar para a obra Ciúme à Italiana de Ettore Scola e a maneira como a comédia retorna, mesmo em momentos graves da história, para servir de suporte a um melhor entendimento dela. Um filme com a presença de Monica Vitti e toda a potência que o humor oferece ao real.
A Bela Moleira, de Mario Camerini, nos joga ao meio de uma farsa sexual com direito a identidades trocadas e pancadas na cabeça; nos apresenta o talento e a beleza atemporais de Sophia Loren, assim como nos coloca diante do absurdo diversas vezes. Um deles é a necessidade de pagar imposto até pela chuva, algo que as personagens de Seca, filme de 2022, conhecem muito bem. Dirigido por Paolo Virzi, o longa nos leva pelas ruas vazias do período de isolamento da COVID-19 e nos conta o entrelaçamento de diversas vidas em meio à crise hídrica. Entre essas vidas de ficção, contudo, se sobressai a história de Monica Bellucci, musa-maior não apenas do cinema italiano mas do mundo inteiro, que surge em meio ao caos de uma Roma desertificada com o interesse pela reflexão crítica sobre seu mundo.
Também contamos com a presença de outros dois importantes filmes da atualidade italiana: o amplamente premiado Os Irmãos de Filippo, que explora de maneira íntima e biográfica os espaços de Nápoles, contando a história de uma ferida familiar que se transforma em arte; e o indicado ao Óscar de 2023, Nostalgia, que se mostra sutilmente como a parábola de um homem e uma cidade oscilando entre a redenção e a condenação. Ambos os filmes capturam de forma vibrante o coração pulsante da Itália.
Por fim podemos olhar para a Itália e observar como, ao longo do trajeto produtivo de suas imagens e histórias, lutas do passado e do presente cruzam as múltiplas faces de várias películas, câmeras, arquivos e atrizes. A voz que protesta muda, seus amores são outros, a cidade nunca será a mesma; mas sejam vias sinuosas ou largas avenidas, seus filmes atravessam o tempo e se encontram sempre com a noção de uma continuidade fina e sutil entre os problemas de ontem -nesse sentido, o cinema de ontem- e os de hoje.
Boas Sessões!