X MOSTRA DE ANIMAÇÃO
X MOSTRA DE ANIMAÇÃO
Entre os dias 17 de julho e 6 de agosto, o CINUSP exibe a décima edição da sua Mostra de Animação. Este ano, para celebrar esse marco, preparamos uma mostra que valoriza a história da animação e seu desenvolvimento enquanto arte. A variedade de histórias contadas, além das técnicas e formatos empregados, que vão desde a animação 3D até o stop-motion e a colagem, compõem esse quadro. Ao total serão 14 longa-metragens, acrescidos de uma sessão de curtas nacionais em parceria com a Associação Brasileira de Cinema de Animação (ABCA). Haverá ainda a realização de uma batalha onde você, espectador, poderá decidir qual filme será exibido!
Destacando a vertente histórica da programação, O Romance de Renard, dirigido por Irene Starewicz e Władysław Starewicz em 1937, foi pioneiro não só no uso de stop-motion, mas na animação de modo geral, tendo sido o sexto longa-metragem animado a ser lançado no mundo. A história, apoiada em fábulas medievais, produziu visualmente um legado enorme que inspirou a obra de diversos autores, sendo Wes Anderson talvez o mais notável.
Por outro lado, Tico e teco: Defensores da Lei, de 2022, brinca com os vai-e-vens da indústria cinematográfica estadunidense, empregando um forte tom metalinguístico e autoconsciente ao comentar as mudanças de mercado do cinema americano. Essas mudanças se expressam no choque entre o uso da animação 2D e da animação 3D, que se confrontam visualmente na figura dos protagonistas. O contato com o live-action aparece para reforçar a pluralidade estética adotada no filme, que remete à série animada de mesmo nome dos anos 80, e vê Tico e Teco como ex-astros de TV obrigados a voltar à ação para salvar a pele de um amigo.
Essa mesma polifonia de técnicas e formatos aparece, de forma mais radical, em animações europeias da década de 70. Para a mostra, selecionamos duas que abraçam o experimentalismo como forma de expressão. O italiano Música e Fantasia, de 1974, também se propõe a brincar com os cânones cinematográficos americanos ao satirizar o filme Fantasia, produzido pela Disney na década de 40. A animação de chave surrealista, dotada de cores e figuras fantásticas, é usada em choque e diálogo com trechos em live-action, filmados em preto-e-branco, criando um contraste que aumenta a força do filme.
Já Banho de Espuma, filme húngaro de 1979 dirigido por György Kovásznai, aposta em um tom ainda mais experimental e radical. O ritmo frenético do filme e suas personagens é acompanhado por mudanças igualmente frenéticas no estilo dos desenhos e na trilha sonora. Além disso, o uso de uma série de jogos de luz e texturas aplicadas sobre as ilustrações nos lembram, a todo momento, da presença da câmera entre o espectador e as animações. A exibição do filme será acompanhada de um curta do mesmo diretor, Noites no Boulevard, que explora características semelhantes às do longa.
Recuando e avançando temporalmente, mas mantendo o foco no experimentalismo europeu, dois filmes tchecos, um de 1947 e outro de 2010, propõem a utilização de técnicas particulares. O Ano Tcheco, primeiro longa do renomado animador Jiří Trnka e ganhador de uma série de prêmios internacionais, alia o uso de stop-motion à tradição do teatro de marionetes do país, encenando cinco contos folclóricos sobre uma pequena vila tcheca. Já Sobrevivendo à Vida: Teoria e Prática, do diretor Jan Svankmajer, dá continuidade a essa herança inovadora apostando na colagem como método associado ao live-action. As imagens, todas fotográficas, são recortadas, justapostas e animadas, a partir de combinações muitas vezes bizarras.
Na esteira dessas animações europeias, marcadas pelo experimentalismo formal, o longa japonês Night is Short, Walk on Girl explode em cores e desenhos surrealistas que o diferenciam dos padrões de outros animes. O anime como gênero também segue representado na mostra com dois grandes sucessos de público e crítica. Em Padrinhos de Tóquio, Satoshi Kon encontra na história de três personagens inusitadas em uma noite de véspera natalina um meio para abordar alguns dos temas que mais lhe são caros, como a solidão, a angústia e a exclusão social. Já Your Name, de Makoto Shinkai, nos traz uma sensível história de conexão entre dois jovens que, apesar de não se conhecerem e viverem vidas completamente distintas, passam a trocar de corpos e vivenciar a rotina um do outro. A beleza dos cenários, que marcam o contraste entre o interior japonês e a modernidade da capital, Tóquio, também são destaque.
E se as animações japonesas estão contempladas com três longas na mostra, o mesmo vale para as animações brasileiras. Tromba Trem, baseado na série televisiva de mesmo nome, traz uma história divertida e cativante, capaz de envolver adultos, jovens e crianças. O filme conta a trajetória de Gajah, um elefante desmemoriado que, de repente, se torna suspeito de uma série de raptos misteriosos e têm de recorrer aos seus antigos amigos para solucionar esse problema. Temos também a presença de Boi Aruá, produção de Chico Liberato que invoca características visuais típicas da literatura de cordel e da arte em gravura para representar o sertão nordestino. Além do fascinante aspecto visual, a obra tem grande mérito por se apoiar em tradições de raízes africanas, indígenas e européias, que se reúnem na figura do Boi Aruá, personagem que desafia o poder e a tirania centrados na personagem de Tibúrcio.
A Cidade dos Piratas, de Otto Guerra, conclui esse ciclo de longas nacionais, trazendo de forma livre para as telas de cinema a vida e as personagens da cartunista brasileira Laerte Coutinho. O filme se propõe a desafiar reiteradamente as características da narrativa convencional, tecendo comentários sobre a relação entre uma obra e seu criador. Além desses três longas, será realizada uma sessão de exibição de seis curtas nacionais recentes em parceria com a Associação Brasileira de Cinema de Animação (ABCA), entre eles Guida e Tamo Junto, cujos diretores Rosana Urbes e Pedro Conti, respectivamente, estarão presentes e realizarão um debate após a exibição.
Percorrendo outros espaços e contextos, Aya de Yopougon, baseado no quadrinho da costa-marfinense Marguerite Abouet, que assina a direção junto de Clément Oubrerie, conta uma história particular sobre o cotidiano de três amigas em Yopougon, uma comunidade pobre periférica à Abdijan, cidade mais rica da Costa do Marfim. Em termos visuais, o filme se mantém muito fiel ao traço dos quadrinhos, adotando um dinamismo que nos remete constantemente ao olhar de leitura direcionado normalmente às HQs.
A animação espanhola Psiconautas, As Crianças Esquecidas, por sua vez, adota um tom sombrio e muitas vezes violento para comentar uma série de temas, da ganância à depressão. A história, centrada em dois adolescentes, Birdboy e Dinko, que decidem fugir de uma ilha devastada ecologicamente, é elevada pelo aspecto formal da obra, que valoriza a gravidade da trama através de fundos escuros e pinceladas que remetem, por vezes, à aquarela.
Por fim, haverá a realização da batalha, que se dará entre duas animações muito populares dos anos 2000, ambas produzidas a partir de computação gráfica. Madagascar e Kung Fu Panda. Votando nas nossas redes sociais você decidirá qual grupo de animais sairá vitorioso!
Essa seleção, capaz de atrair públicos de todas as idades, faz jus à história da animação enquanto gênero cinematográfico e também à já tradicional Mostra de Animação do CINUSP que, em sua décima edição, traz para o seu mês de férias algo realmente especial. Não deixe de vir conferir!
Boas sessões!