JORGE FURTADO: TUDO ISSO ACONTECEU, MAIS OU MENOS


Esta mostra é sobre Jorge Furtado. Jorge é um cineasta brasileiro, com telencéfalo altamente desenvolvido e dois polegares opositores. O telencéfalo altamente desenvolvido o permite ter ideias e criar histórias. O polegar opositor permite que ele segure uma câmera para filmá-las. Buscando celebrar esse que é um dos mais importantes e renomados diretores do país, o CINUSP e a Cinemateca Brasileira exibirão sua filmografia entre os dias 22 de abril e 5 de maio na mostra Jorge Furtado: Tudo Isso Aconteceu, Mais ou Menos. Iremos explorar seus curtas, episódios de TV e longas de cinema, além de lançar o novo livro homônimo da Coleção CINUSP com o próprio Jorge Furtado.

Natural do Rio Grande do Sul, Furtado começou sua carreira no jornalismo e logo se adentrou no meio cinematográfico, fundando a cooperativa Casa de Cinema de Porto Alegre. Ele inicia sua filmografia com o que viria a ser uma extensa produção de curta-metragens que continua até hoje, sendo reconhecida e situando-o como um dos maiores diretores e roteiristas brasileiros da história. Nas suas primeiras cinco obras, reunidas na Sessão de Curtas Anos 80, já podemos observar traços estilísticos marcantes. As referências televisivas, a aproximação com o documentário e a constante mistura de ficção e realidade presentes em Esta Não É Sua Vida e Barbosa são aspectos que permeiam quase toda a carreira do cineasta e, misturados a um humor engajado, são a base do seu curta de maior alcance, Ilha das Flores. A obra firma o diretor gaúcho como uma figura proeminente dentro do cenário nacional e internacional, sendo premiada com o Urso de Prata no Festival de Berlim de 1990 e classificado como o melhor curta-metragem brasileiro da história pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema.

Dando continuidade a sua trajetória, organizamos a Sessão de Curtas Anos 90, que também revela temas e formatos fundamentais para o diretor. Em Veja Bem e Ângelo Anda Sumido, Furtado aborda questões sociais contemporâneas como as relações de consumismo e trabalho e a sensação de aprisionamento das cidades, respectivamente. Já em O Sanduíche sua atenção se volta para o cinema como linguagem, usando as discussões de um casal para revelar múltiplas camadas diegéticas em um só curta. Contemplando um pouco do seu extenso trabalho na TV, também será exibido o curta A Matadeira, parte do telefilme Os Sete Sacramentos de Canudos, em que Jorge narra a histórica rebelião sob o ponto de vista do canhão inglês.

Ainda no formato televisivo, ele fez parte da criação da série A Comédia da Vida Privada, adaptando as crônicas de outro grande escritor gaúcho, Luis Fernando Veríssimo. Inicialmente participando apenas como roteirista, Furtado dirige o episódio Anchietanos, que é baseado no roteiro que seria sua estreia em longa-metragem. Junto dele será exibido o curta Até a Vista, que aborda justamente os dramas de um cineasta fazendo seu primeiro longa e adaptando o material de outro escritor. Foi em 2002 que Furtado extrapolou a média-metragem com seu filme Houve Uma Vez Dois Verões. O filme é um coming of age situado no litoral gaúcho que combina uma direção despojada com as questões típicas da adolescência, muito caras a Furtado.

Ele continua a tratar da juventude gaúcha nos seus próximos longas, explorando agora o espaço de sua cidade natal, Porto Alegre. Em Meu Tio Matou Um Cara, um adolescente passa por todos os processos de descoberta clássicos do período enquanto ainda investiga um caso de assassinato que seu tio confessou. Furtado decide retratar o jovem da nova geração como alguém que, ainda que inexperiente, é mais bem informado que os adultos e também repete a parceria com Lázaro Ramos, que protagonizou seu filme anterior, O Homem que Copiava. Nele, o ator baiano interpreta um jovem apaixonado que decide usar a nova máquina do seu trabalho para copiar dinheiro e conquistar sua amada. O filme combina animação e colagens para contar uma história que vai se tornando cada vez mais surpreendente e exibe a enorme capacidade de Furtado para citar e mesclar as mais variadas referências, da literatura até o próprio cinema. Esse olhar reflexivo para a produção cinematográfica é a premissa para Saneamento Básico, onde os moradores de uma pequena cidade gaúcha decidem fazer um filme de ficção e redirecionar a verba do governo para construir uma fossa destinada ao tratamento do esgoto local. Nessa abordagem metalinguística, o que é a princípio uma crítica a distribuição de recursos governamentais se torna uma carta de amor ao cinema e, com um elenco estelar e um roteiro afiado em humor, o filme se torna um dos maiores sucessos da carreira de Jorge.

Consolidado como um dos maiores roteiristas de comédia do país, o cineasta aproveita sua enorme projeção nacional e acesso a grandes estrelas para explorar histórias mais dramáticas nas suas produções mais recentes. Em Real Beleza, o gaúcho retrata o caso de um fotógrafo frustrado que se envolve com a mãe de uma de suas modelos, enquanto questiona o significado e a busca da beleza. Ainda com um foco dramático, em Rasga Coração, o diretor retorna um pouco da sua leveza cômica e seu apreço por abordar questões sociais contemporâneas do país. A adaptação da peça de Oduvaldo Vianna Filho retrata os conflitos geracionais entre Custódio, ex-revolucionário na época da ditadura, e seu filho rebelde. Através de um intenso drama familiar que combina números musicais com flashbacks, o diretor traça um forte paralelo entre a juventude subversiva de antes e os reacionários de hoje.

Além disso, receberemos o próprio Jorge Furtado no dia 26 de abril em um debate após a sessão de Anchietanos e Até a Vista. Toda a programação e outras obras do cineasta também serão exibidas na Cinemateca Brasileira, onde ocorrerá o lançamento do novo livro da coleção CINUSP no sábado, 27 de abril. Convidamos todos a conhecer, explorar e se encantar com a filmografia deste diretor, que continua sendo um dos mais importantes do nosso cinema nacional.

 

Boas sessões!

Equipe CINUSP