NOVÍSSIMO CINEMA BRASILEIRO


A tradicional mostra Novíssimo Cinema Brasileiro retorna este ano fora de época  em sua 12ª edição entre os dias 26 de agosto e 15 de setembro. Contando com 16 programações de diferentes estilos, formatos e regionalidades, o CINUSP apresenta uma seleção de filmes e lançamentos significativos dentro da produção nacional dos últimos anos, buscando criar um retrato abrangente da diversidade e amplitude do cinema brasileiro contemporâneo. Para aprofundar e enriquecer a discussão, também teremos 5 debates ao longo da mostra com realizadores, pesquisadores e convidados especiais.

Explorando o caráter reflexivo da sétima arte, o cinema brasileiro recente demonstra um grande interesse em olhar para a extensa produção cultural do país. Adaptando o material de uma das mais importantes escritoras da literatura brasileira, A Paixão Segundo G.H. leva o conto homônimo de Clarice Lispector para as telas, traduzindo a turbulência das reflexões e palavras da autora para uma linguagem visual e sensorial. No dia 27/08 a sessão do filme será seguida de um debate com a pesquisadora e doutoranda Mariana Borrasca Ferreira. Através do formato extremamente popular da biografia musical, Nosso Sonho também se debruça sobre a arte e os artistas brasileiros, narrando a trajetória da icônica dupla Claudinho e Buchecha desde o início de sua amizade até seu sucesso estrondoso no funk melody dos anos 2000. Ainda no cenário musical, o filme Terror Mandelão acompanha as reviravoltas da jornada de DJ K e MC Zero K dentro do mercado dos bailes de funk paulistanos, mesclando elementos ficcionais e a estética do funk mandelão dentro do formato documental. No dia 04/09 a sessão será acompanhada de um debate com os realizadores do filme.

O documentário também se mostra como um meio especialmente propício para os cineastas refletirem sobre as mudanças no espaço e na sociedade ao longo do tempo. Em Samuel e a Luz, acompanhamos ao longo de seis anos uma família que mora na comunidade caiçara de Ponta Negra, no litoral de Paraty. Nesse tempo, a chegada da eletricidade e do turismo na vila transformam os hábitos regionais e contrastam com as atividades tradicionalmente ligadas à natureza. A sessão do dia 12/09 será seguida de um debate com o diretor. No dia 29/08, também teremos a pré-estreia seguida de debate com o diretor de Lista de Desejos para Superagüi, outro documentário sobre uma comunidade litorânea. A obra explora as dificuldades que a população da ilha paranaense enfrenta vivendo nessa região isolada, tomando como protagonista um pescador de 70 anos tentando se aposentar. Ainda no cenário do litoral, Sem Coração volta ao Alagoas dos anos 90 para narrar a jornada de amadurecimento e descobrimento sexual de Tamara, uma jovem que está passando suas últimas semanas na sua vila pesqueira antes de se mudar para Brasília. Ela e seus amigos se confrontam com a sociedade conservadora local em uma história de coming of age baseada na própria vida de Nara Normande, que divide a direção do filme com Tião.

São muitas as maneiras de um cineasta explorar sua vida pessoal nas suas obras. Diferentemente da ficção, muitos escolhem se colocar frente a câmera com registros íntimos, decifrando seus conflitos em tela. Esse é o caso de Incompatível Com a Vida, em que a diretora Eliza Capai se junta a várias outras mulheres que também tiveram complicações durante a gravidez para relatar as dificuldades emocionais e médicas que enfrentaram, criando uma discussão profunda e tocante sobre a vida, o luto e os direitos reprodutivos no Brasil. O diretor cearense Karim Aïnouz também reflete sobre uma questão familiar em seu documentário O Marinheiro das Montanhas, que registra sua primeira viagem à Argélia, país natal de seu pai, que foi ausente durante a maior parte de sua vida e é recuperado pelas memórias de sua mãe.

Também se colocando como alvo da lente cinematográfica, Kleber Mendonça Filho, realiza um dos mais importantes lançamentos do ano, seu documentário Retratos Fantasmas. O diretor investiga a evolução do centro de Recife no século XX a partir dos seus cinemas de rua enquanto ainda tece um comentário pessoal e metalinguístico sobre sua própria filmografia. As sessões do filme na sala da Cidade Universitária serão realizadas especialmente no formato de 35mm. De maneira similar ao pernambucano, o consagrado cineasta Julio Bressane também retoma sua extensa filmografia no seu longo filme de 7 horas, A Longa Viagem do Ônibus Amarelo. Dividindo a direção com Rodrigo Lima, ele faz uma retrospectiva sobre as suas seis décadas de trabalho, juntando trechos de suas obras com gravações caseiras.

Bressane também está presente na mostra com seu último longa Leme do Destino, onde ele usa um fio narrativo simples e livre para experimentar com a linguagem cinematográfica. O filme narra um romance intenso e turbulento entre duas amigas de longa data, evocando muitas vezes práticas do teatro e das artes plásticas. Também trabalhando com uma história pouco linear e progressiva, a animação Bizarros Peixes das Fossas Abissais experimenta com a estética do rascunho e esboço de desenho para refletir sobre o caos e os desafios da vida cotidiana. Em uma produção extremamente independente, o filme Paixão Sinistra, influenciado por cineastas como Bressane, também faz uso de um experimentalismo com a forma, criando uma narrativa fragmentada com uma imagem digital ruidosa para brincar com conceitos do cinema de gênero. A sessão do filme também contará com um debate junto da equipe e do diretor.

Não só de maneira experimental, as produções brasileiras também se voltam para o cinema de gênero para retratar temas atuais de maneira mais apelativa. O longa Propriedade, por exemplo, mescla os gêneros de suspense, drama e crime para expor os abismos da desigualdade social brasileira. No filme, uma estilista vai passar um tempo na fazenda de seu esposo, onde acontece um embate moralmente desafiador entre os proprietários e os trabalhadores que se revoltam. Em Pedágio, a diretora Carolina Markowicz retrata o conflito de uma mãe tentando conseguir dinheiro para financiar a “cura gay” do seu filho, tecendo um comentário mordaz sobre os setores mais conservadores e religiosos da sociedade brasileira.

Para enriquecer a programação da mostra, o CINUSP também realizará uma sessão em parceria com o Festival Mosaico. O evento, que teve sua primeira edição em 2023, é completamente organizado por estudantes e é voltado para a exibição de curtas universitários. A sessão conta com 6 produções de diferentes escolas de São Paulo, incluindo a ganhadora do prêmio do júri e as duas favoritas do público.

Através de tantas jornadas individuais e coletivas, a seleção da mostra procura demonstrar as múltiplas facetas que constroem o que entendemos por cinema brasileiro contemporâneo, atestando a sua pluralidade e criatividade. Convidamos a todos a conhecerem e se aprofundarem na produção nacional recente!

Boas sessões