EM CARTAZ

CINEMA IMPOSSÍVEL


              nada a fazer…                                                                                                            

 

              Cinema                                                                mas não faz mais sentido…

 

              o filme se desfez…                                                                             Cinema

 

              Cinema                                                                               a luz se apagou…

 

              da linguagem só sobraram ruínas…                                                  Cinema

 

Cinema                                                 mesmo quando não parece possível

 

                                                                                                            Cinema                        


 

O CINUSP te convida para a mostra Cinema Impossível.

Entre os dias 18 de novembro e 1 de dezembro,

filmes feitos de maneiras que você nunca esperou.


 

filmes com a história deslocada,

não a vemos da forma habitual.

em New Rose Hotel a intriga é mostrada pelas beiradas,

Abel Ferrara filma apenas os quartos escondidos em que ela é planejada.

em O Caminhão, a escritora Marguerite Duras lê um roteiro vacilante,

mas o filme visto não é o que é lido, talvez quase seja, mas não.

no curta Justiça Poética, só um roteiro disposto numa mesa,

cada espectador que lê imagina seu filme, contracena com seu próprio passado.

 

filmes com a imagem e som fora do lugar,

ouvimos visões, vemos audições.

em Sagrada Família, jóia esquecida do cinema marginal brasileiro,

a imagem tradicional de Minas é silêncio, e o som caótico do Rio é cor. 

em Branca de Neve, quase tudo é escuridão.

o pouco que vemos são apenas pontuações na escuridão da sala,

intervalos das imagens que supomos, descritas pelas personagens.

 

filmes em que a luz do mundo

não representa o mundo.

na sessão Cinema Estrutural, o real é transformado em pura forma

Kubelka usa o mínimo em Arnulf Rainer. luz, escuridão, ruído, silêncio.

Ernie Gehr faz um corredor não ser mais reconhecível,

em Serene Velocity, ele vira uma profusão de desenhos alienígenas.

Michael Snow transforma um loft vazio, aproximando cada vez mais de uma parede.

cria-se o cenário de um jogo plástico de expectativas, no seu clássico Wavelength.

 

no dia 21/11, às 19h00, haverá um debate sobre a sessão com o crítico Lucas Baptista.

 

filmes, mesmo quando tudo parece impedi-los.

Mekas tenta compreender sua vida através do cinema, mas falha.

resta colocar toda essa falha em Ao Caminhar Entrevi Lampejos de Beleza.

“nada acontece neste filme”, ele diz. ao mesmo tempo, “este é um filme político”.

Jafar Panahi, proibido de filmar pelo Estado iraniano, diz Isto Não É Um Filme,

e faz um cinema sobre o próprio impedimento de fazê-lo.

esse gesto é sua própria substância.

 

filmes, mesmo se os cineastas já se foram.

O Outro Lado do Vento, sobre um filme frustrado, foi tirado das mãos de Orson Welles.

recuperado em 2018, sua forma inacabada é parte de sua potência e ironia.

Godard, em 1974 voltou a um filme que nunca terminou,

e com isso fez cinema em Aqui e em Qualquer Lugar.

em 2023, já morto, lançou o trailer de um filme que nunca fará, 

e fez disso cinema em Guerras de Mentira.

 

filmes, mesmo que dissolvidos e despedaçados.

Decasia e Light is Calling ressuscitam material destruído pela ação do tempo

fazem com o nitrato deteriorado novas sequências, encenando a sua destruição.

O Filme Infinito recupera fragmentos de filmes argentinos incompletos,

faz eles irem à luz pela primeira vez, ganhando sentidos renovados.

na sessão Cinema Desfigurado, a intervenção é uma forma de criação.

imagens familiares da nossa cultura audiovisual são viradas ao avesso.

 

nesta sessão no dia 29/11, às 19h00, haverá uma performance especial.

criação de filme inédito com dupla projeção em 16mm, por Moira Lacowicz,

sonorizada ao vivo por Diana Rietveld, além de debate com as artistas.


 

O impossível é a marca daquilo que nunca se concretizará.

No entanto.

O impossível é a marca de algo além do nosso horizonte.

Algo que, no cenário atual, não existe, mas denota a necessidade um campo novo 

de novas possibilidades e novas condições. Estes filmes trabalham com esse impossível.

 

Boas sessões!