CINEMA FEMININO INTIMISTA


Trajetória Intimista: Um Olhar ao Cinema Feminino

Ao se propor uma mostra de cinema feminino, ao contrário do que se possa a princípio imaginar, não é intenção discutir um cinema realizado por ou para mulheres. O que nos leva a classificar um filme como feminino é o recorte que ele escolhe dar a uma realidade, normalmente proporcionando uma investigação reflexiva, ponderando e esboçando traços da personalidade de seus personagens. Mais do que peripécias, busca a compreensão de um universo. Mais do que ações, narra uma trajetória de mulheres em busca da expressão de sua essência.
Em O Raio Verde, esta busca se torna uma metáfora que permeia todo o filme - a busca por um raio verde - raio que representaria sua redenção pessoal, seu reconciliamento com o mundo externo. No filme As Horas, esta busca redentora não tem materialização visual, adentramos o sentimento de angústia das três protagonistas, revelando um universo psicológico predominantemente feminino.
De forma abertamente mais cruel, A Professora de Piano também explora a psicologia feminina. Porém, se em As Horas vemos nas protagonistas a marca profunda da depressão, em A Professora de Piano os sintomas superam a apatia e somos presos a cenas violentas de autoflagelação.
Dançando no Escuro também nos faz deparar com uma violência latente, porém, sua origem é outra: a luta pela manutenção da maternidade. Luta que já começa derrotada em A Liberdade é Azul e Tudo Sobre Minha Mãe: com a morte dos filhos e a necessária caminhada de reconstrução das ex-mães.
A experiência da morte também se revela à protagonista em Longe do Paraíso, mas, desta vez, não a morte física, mas a de seu lar, o desmoronamento de todas suas ilusões e o enfrenta- mento de um mundo cruel no qual sempre fora poupada.
Une-se a esta pequena amostra de filmes a presença notável da crítica britânica Laura Mulvey, propondo ao público do CINUSP “Paulo Emílio” em sua palestra um convite à reflexão sobre o universo feminino e as diversas representações da mulher no cinema, como reflexo difuso, porém, representativo de nossa sociedade.

Ana Luíza Béco.