CINEMA EM NEGRO E BRANCO: IDENTIDADES ÉTNICAS EM QUESTÃO
A posição dos índios no discurso audiovisual também será abordada pela mostra: Mata Eles? faz uma denúncia corrosiva sobre a difícil situação das tribos indígenas Kaigang, Guarani e Xetá na reserva de Mangueirinha. Também será projetado O Amendoim da Cutia, produção indígena sobre o cotidiano da aldeia Panará, na mesma lógica dü üooma Feijoada: se um sem-número de grupos étnico-culturais e uma diversidade de indivíduos, identificados peln olhar exterior como "o índio", têm sido historicamente retratados como caricatura da identidade nacional, O Amendoim da Cutia é realizado pelos mesmo índios que apresenta.
Por fim, pode-se dizer que esta seleção de filmes deixa uma pergunta no ar; até que ponto esses retratos alternativos não acabam por criar novos estereótipos? Sem o intuito de esgotar essa questão mas, pelo contrário, buscando estabelecer uma comparação, será exibido Quasa Dois Irmãns, produção contemporânea que opta propositadamente por uma retrospectiva estereotipada, do negro sambista ao traficante dos dias atuais. Crítico ao escancarar a impossibilidade de uma integração paternalista entre povo e intelectualidade, o filme acaba por reiterar o imaginário do intelectual branca, que em tempos saudosos ia ao morro prestigiar a gafieira do negro, mas que nos dias de hoje teme a violência do narcotráfico e gera novas formas de segregação social.
Neste momento de profundos questionamentos despertados pelo debate sobre o Estatuto da Igualdade Racial, estes filmes podem abrir um prisma de perspectivas críticas para a reflexão sobre identidades étnicas, o lugar do negro e do índio no discurso cinematográfico e, por extensão, a própria identidade nacional.
Noel dos Santos Carvalho e Luis Felipe Kajima Hirana, idealizadores da mostra.