DITADURA E CINEMA


História e Cinema: a pertinência do tema da Ditadura Militar pelas Lentes do Cinema

Recentemente temos visto, em reflexões sobre a historiografia, a necessidade de multiplicar e diversificar as fontes de análise para o entendimento de determinado período. Se antigamente o trabalho do historiador estava restrito apenas a documentos escritos e a poucos outros mais, hoje a história não cessa de criar conexões com outras áreas das ciências humanas. É nesse ponto que a expressão artística começa a ser considerada como fonte de entendimento histórico e é também nessa relação que História e Cinema apresentam chances de desenvolverem um diálogo frutífero.
Tendo isso em mente, o CINUSP "Paulo Emílio" apresenta uma seleção de filmes com a temática da Ditadura Militar. O recorte cinematográfico escolhido foi o de filmes produzidos a partir da década de 1980, já que, apenas a partir de certa abertura política, seria possível que as obras abordassem esse tema de forma direta e central. Tal escolha revela-se interessante pois podemos enxergar um movimento duplo nessas obras: um contemporâneo (estético) e outro histórico (conteúdo).
Explicando mais a fundo, o histórico ocorreria no desenrolar do próprio filme ou documentário, na medida em que a construção ficcional reflete uma pesquisa específica, que escolhe determinados fatos e perspectivas em detrimento de outros. No caso do documentário a mesma questão se dá, no entanto, a reconstituição histórica ocorre através de uma pesquisa menos controlada, usando a memória de indivíduos que viveram a época. Esse é o caso do documentário Hércules 56, porém, também aqui não escapamos de uma possível memória seletiva dos próprios entrevistados. Vê-se então que tal movimento caracteriza- se essencialmente por um viés político e reflexivo.
O movimento contemporâneo diz respeito, em essência, ao próprio filme. Este que disponibiliza o seu método e potencial estético para viabilizar a discussão do conteúdo na relação filme/espectador. Nas palavras de Ismail Xavier: " ...o tipo de experiência audiovisual que o cinema oferece - como suas imagens e sons se tornam atraentes e legíveis, de que modo conseguem a mobilização poderosa dos afetos e se afirmam como instância de celebração de valores e reconhecimentos ideológicos...". Vê-se, então, que esses dois planos não estão separados de maneira estanque: eles devem ser operacionalizados e pensados de maneira intrincada e conjunta. O conteúdo veiculado pela via artística do cinema é algo que, por sua vez, nos leva a questionar justamente a relação do Cinema com a História: como o cinema sobre a ditadura está transformando o nosso próprio pensamento com relação ao período? E, por sua vez, como essas mudanças de visão influenciam na reflexão de questões do presente? Qual é a força original que o cinema fornece para pensar nossa história? Como essas obras irão interferir na historiografia que pensará, um dia, o nosso momento presente?
A inserção do Cinema na visão histórica não deixa dúvidas sobre sua pertinência, afinal, o imaginário artístico do homem é tanto história quanto uma cristalizada História tradicional. Dessa forma, para problematizar e elucidar todas essas questões, além de também instigar outras, realizaremos, juntamente com esse "Ciclo de Cinema Sobre a Ditadura Militar", um "Seminário sobre Cinema e Ditadura", contando principalmente com a presença de realizadores e professores. Acredita-se, desta forma, explorar a fundo um tema tão importante e marcante na história de nosso país.

Éder Terrin.